top of page
JMartins

A Psicologia do Dinheiro: Como Nossas Emoções Influenciam Nossas Finanças

A psicologia do dinheiro é uma área muito fascinante que explora como nossas emoções e comportamento afetam nossas decisões financeiras. Embora muitas vezes vejamos o dinheiro como algo puramente racional, podemos dizer que ele está intimamente ligado a vários fatores psicológicos, como emoções, crenças e experiências pessoais. Neste artigo, vamos examinar como nossas emoções influenciam nossas finanças, analisando alguns insights de especialistas na área e discutindo como podemos desenvolver um relacionamento mais saudável com o dinheiro.



Primeiro precisamos entender o termo, o que é Psicologia do Dinheiro? A psicologia do dinheiro estuda diversos fatores: emocionais, culturais e psicológicos, e como eles influenciam o comportamento financeiro dos indivíduos. Diferente da economia tradicional, que vê as pessoas como "agentes racionais" tomando decisões ótimas, a psicologia do dinheiro reconhece sobretudo que somos seres emocionais, muitas vezes irracionais em relação a nossas escolhas financeiras.


Morgan Housel, autor do best-seller The Psychology of Money, escreve:

“O sucesso financeiro não é uma ciência exata, mas sim uma mistura de habilidades técnicas e emocionais. Não é apenas sobre o que você sabe, mas sobre como você se comporta."


Este campo revela como experiências de vida, valores e crenças culturais impactam diretamente nosso relacionamento com o dinheiro e como muitos erros financeiros, muitas vezes reincidentes, são causados não pela falta de conhecimento técnico sobre finanças, mas por decisões emocionais que tomamos.


Como Emoções Afetam Nossas Finanças

As emoções desempenham um papel central em como gastamos, economizamos e investimos recursos financeiros. De acordo com o psicólogo Dr. Brad Klontz, especialista em comportamento financeiro:

"As emoções são um dos fatores mais poderosos que afetam a forma como gerenciamos o dinheiro. O medo, a ansiedade e o estresse financeiro podem levar a decisões financeiras impulsivas e irracionais."

Vejamos a seguir algumas emoções que podem influenciar diretamente nosso comportamento financeiro:


1. Medo

Talvez você se pergunte: “Que relação tem o medo com dinheiro?” O medo é uma emoção poderosa que pode afetar diretamente nossas decisões financeiras. Durante crises econômicas, por exemplo, muitas pessoas tomam decisões financeiras baseadas no medo de perder seu dinheiro, vendendo investimentos precipitadamente ou evitando investimentos de longo prazo por medo de incertezas geradas pelo mercado.

A pesquisa realizada pela American Psychological Association revela que 62% dos americanos relatam sentir estresse financeiro, o que pode levar à paralisia nas decisões ou a escolhas impulsivas.


Um exemplo claro foi a crise financeira no ano de 2008, quando o mercado de ações despencou e muitos investidores, com medo de perder ainda mais dinheiro, venderam suas ações na baixa trazendo para muitos investidores prejuízos na casa dos milhões de dólares. O problema é que esses mesmos investidores perderam a oportunidade de lucrar quando o mercado se recuperou, pois o medo que sentiram no momento da queda dos preços das ações os impediu de manter uma visão de longo prazo para seus investimentos.


2. Ganância

Podemos dizer que a ganância que segue uma linha diferente do medo. Ela é a emoção que leva muitas pessoas a correrem grandes riscos em busca de grandes recompensas, em especial recompensas financeiras. Isso pode ser visto no comportamento de muitos investidores, especialmente durante  as chamadas "bolhas" no mercado financeiro. Quando vemos outras pessoas enriquecendo rapidamente com um investimento específico, temos a tendência de pensar que precisamos fazer o mesmo, mesmo que isso vá contra nossos princípios financeiros e contra nossas análises de mercado.


Warren Buffet, uma das vozes mais conceituadas no mundo dos investimentos, alerta:

"O maior inimigo do investidor é ele mesmo. A ganância pode nos cegar para os riscos reais."


Um exemplo disso foi a bolha das empresas "ponto com" nos anos 90, quando muitos investidores compraram ações de empresas de tecnologia sem ter um conhecimento profundo dos fundamentos dessas empresas. Movidos pela ganância de obter lucros rápidos, muitos investidores sofreram grandes perdas quando a bolha estourou.


3. Vergonha

Vergonha financeira é uma emoção que frequentemente muitos negligenciam, mas que pode ter grandes impactos na saúde financeira dos indivíduos. Pessoas que se sentem envergonhadas por suas dívidas ou mesmo por más decisões financeiras muitas vezes evitam encarar seus problemas financeiros de frente, o que pode levar ao agravamento da situação.


Dr. Klontz explica que: “A vergonha financeira pode ser uma barreira para buscar ajuda. A vergonha de não ter sucesso financeiro comparado a amigos ou familiares muitas vezes impede as pessoas de se abrirem sobre suas dificuldades."


Essa vergonha pode acabar levando ao acúmulo de dívidas, pois a pessoa pode evitar procurar ajuda ou conselhos financeiros por medo de um julgamento negativo. Um estudo realizado por AFCPE (Association for Financial Counseling & Planning Education) mostrou que muitas pessoas em situação de dívida prolongada atrasam buscar ajuda devido ao estigma social.


4. Felicidade

Diferente de emoções negativas como medo ou vergonha que já analisamos, a felicidade também pode nos levar a decisões financeiras ruins ou questionáveis. Quando estamos felizes, acabamos cedendo à tendência de gastar mais, e muitas vezes de maneira impensada e irresponsável. Compras por impulso, por exemplo, são muitas vezes motivadas por um desejo de manter ou aumentar nosso estado emocional positivo.


Sarah Newcomb, autora de Loaded: Money, Psychology, and How to Get Ahead without Leaving Your Values Behind, sugere que: "Quando estamos felizes, nosso autocontrole pode diminuir, levando a gastos que não são alinhados com nossos objetivos de longo prazo."


Para exemplificar, essa situação é bem perceptível durante eventos comemorativos ou períodos de festas, como Natal, Black Friday ou festas de final de ano. As pessoas, animadas pelas promoções e pelo espírito festivo, muitas vezes acabam gastando bem mais do que planejaram ou do que deveriam, resultando em dívidas desnecessárias.


Os Efeitos Cognitivos nas Decisões Financeiras

Além das emoções, a psicologia do dinheiro também examina quais os efeitos cognitivos que nossas decisões financeiras podem causar. Heurísticas — são atalhos mentais que usamos para tomar decisões — que podem levar uma pessoa a cometer erros financeiros. Abaixo estão algumas heurísticas e preconceitos comuns que podem afetar o comportamento financeiro das pessoas:


1. Viés de Confirmação

O viés de confirmação é a tendência de buscar apenas as informações que confirmem nossas crenças preexistentes. Ou seja, apenas as informações que concordem com sua opinião é que são relevantes. No contexto financeiro, isso pode nos levar a pessoa a ignorar fatos e dados que sugerem que um investimento é arriscado demais ou a supervalorizar informações que sustentam nossas decisões.

Um exemplo clássico disso são as bolhas de mercado, onde investidores continuam acreditando que os preços dos ativos subirão indefinidamente, ignorando todos os sinais contrários. Isso pode acabar resultando em grandes perdas quando o mercado corrige sua trajetória.


2. Ancoragem

A ancoragem é um fenômeno em que as pessoas confiam em uma certa informação inicial (a “âncora”) para tomar decisões posteriores. Por exemplo, quando uma pessoa vê um preço inicial alto em um determinado item de luxo e depois vê aquele mesmo item com desconto, pode sentir que está fazendo um grande negócio, mesmo que o preço final ainda seja muito elevado.


Daniel Kahneman, ganhador do Prêmio Nobel e autor de Rápido e Devagar: Duas Formas de Pensar, explica: "A ancoragem pode nos levar a tomar decisões financeiras irracionais ao exagerarmos o valor de certas informações iniciais."


Isso se aplica também aos mercados de ações, onde o preço de compra original de um ativo pode influenciar a decisão de mantê-lo ou vendê-lo, mesmo quando o cenário econômico está mostrando claramente o contrário.


3. Efeito de Possessão

O efeito de posse refere-se à tendência de dar mais valor a algo que possuímos do que o valor que daríamos a ele se não fosse nosso. Isso pode levar a problemas quando vendemos ativos ou investimentos, já que as pessoas muitas vezes hesitam em vender algo que já possuem, mesmo quando faria mais sentido no aspecto financeiro vendê-lo.

Por exemplo, muitos proprietários de imóveis continuam a manter suas propriedades mesmo quando deixam de ser financeiramente vantajosas, simplesmente porque a ideia de vender o que possuem é emocionalmente difícil demais para aceitarem.


Nossas Experiências de Vida e o Impacto delas no Comportamento Financeiro

Nossas experiências de vida também têm um papel fundamental em como lidamos com dinheiro. Se nascemos e crescemos em uma família que enfrentou muitas dificuldades financeiras, podemos acabar desenvolvendo uma aversão ao risco e uma obsessão por economizar, mesmo quando não é necessário. Da mesma forma, pessoas que cresceram em ambientes financeiros estáveis podem não dar a devida importância ou valor à gestão financeira, gastando de forma mais imprudente.


Segundo Meir Statman, professor de finanças comportamentais da Universidade de Santa Clara: "Nossas experiências de vida moldam nossas crenças e atitudes em relação ao dinheiro, o que pode nos levar a decisões baseadas em medo, aversão ao risco ou excesso de confiança."


Como Construir um Relacionamento Saudável com o Dinheiro

Para conseguirmos lidar com os desafios emocionais e cognitivos que afetam diretamente nossas finanças, é muito importante adotarmos uma abordagem consciente e equilibrada em relação ao dinheiro. Vejamos algumas estratégias recomendadas por especialistas para ajudar a construir um relacionamento mais saudável com suas finanças:


1. Estabeleça Metas Claras

Ter metas financeiras bem claras e específicas pode ajudar a reduzir a influência das emoções nas decisões financeiras. T. Harv Eker, autor de Os Segredos da Mente Milionária, ressalta: "Sem metas claras, as pessoas ficam à mercê de suas emoções momentâneas, o que pode levar a decisões financeiras ruins."


2. Pratique a Atenção Plena Financeira

A atenção plena, ou mindfulness, também pode ajudar a diminuir o impacto das emoções em suas decisões financeiras. Reservar tempo para refletir sobre suas finanças e tomar decisões de maneira consciente, em vez de agir por impulso, é essencial. Dr. Klontz sugere o uso de diários financeiros para aumentar a conscientização sobre seus hábitos e emoções relacionadas ao dinheiro.


3. Crie Hábitos Financeiros Saudáveis

Assim como ter uma rotina de exercícios físicos lhe  ajudará a manter a saúde física, da mesma forma, criar hábitos financeiros saudáveis pode manter sua saúde financeira. Isso pode incluir automatizar suas economias, fazer revisões financeiras regulares e evitar compras por impulso.


4. Considere o Impacto Emocional Antes de Tomar Decisões Financeiras

Antes de tomar uma decisão financeira importante, faça uma análise e pergunte a si mesmo quais são as emoções que estão motivando você a fazer essa escolha. Se estiver agindo com base em medo, ganância ou ansiedade, reavalie sua situação e considere buscar conselhos de um consultor financeiro.


Em suma, entender a psicologia do dinheiro é fundamental para melhorar nossa saúde financeira. As emoções que analisamos: o medo, ganância e vergonha podem nos levar a decisões muito ruins, enquanto as tendências cognitivas desvirtuadas: a ancoragem e o efeito de possessão, distorcem nossa percepção financeira. Quando praticamos o autocontrole emocional e adotamos uma abordagem consciente e informada, sem dúvida podemos melhorar significativamente nosso relacionamento com o dinheiro e alcançar uma vida financeira mais equilibrada.

 

Fontes:

  • Housel, Morgan. The Psychology of Money. Harriman House, 2020.

  • Klontz, Brad, e Ted Klontz. Mind Over Money: Overcoming the Money Disorders That Threaten Our Financial Health. Broadway Books, 2009.

  • Newcomb, Sarah. Loaded: Money, Psychology, and How to Get Ahead without Leaving Your Values Behind. Wiley, 2016.

  • Kahneman, Daniel. Rápido e Devagar: Duas Formas de Pensar. Objetiva, 2012.

  • Statman, Meir. What Investors Really Want: Know What Drives Investor Behavior and Make Smarter Financial Decisions. McGraw-Hill, 2010.

 

25 visualizações0 comentário

Comments


bottom of page